quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Filha de Janaína

Sentiu a areia entrar pelos dedos e afundou ainda mais seu pé para que aquela sensação não fosse embora. A aspereza dos grãos de areia contra sua pele macia era estranhamente gostosa. 
Contorceu os dedos do pé tentando agarrar aquele momento.

Deu graças a brisa fresca que, às vezes, batia e a fazia esquecer por um segundo o calor soberano que se impunha. O mar estava a poucos metros, calmo e liso. Um pecado azul.
Tirou o vestido, a presilha que separava uma mecha de cabelo que sempre ficava caindo em sua testa, e por fim a calcinha. Sentiu uma gota de suor cair de seu rosto e percorrer todo o seu corpo, ou seria uma lágrima?
Com alguns passos chegou a beira e mergulhou o corpo inteiro de uma vez só. Sentiu a água gelada invadir todos os poros de sua existência. Por um instante teve medo, mas logo se rendeu à onda e num momento de êxtase profundo deixou que a levasse.
Foi em seu último suspiro de vida que disse carinhosamente: "Serei para sempre tua."
E desfaleceu envolta nos fortes braços de Mar, aquele que a fez mergulhar um mergulho sublime dentro de si mesma.